Rio de Janeiro: greve compromete conclusão da Transcarioca para a Copa

(Foto:  Divulgação)
Cerca de 30 mil operários cruzam os braços e param sete obras de infraestrutura

Sete grandes obras de infraestrutura e mobilidade urbana na cidade do Rio para a Copa do Mundo e os Jogos Olímpicos de 2016 foram paralisadas ontem, sem data de retorno, devido à greve de mais de 30 mil trabalhadores da construção civil por melhores salários. 
A paralisação deve afetar diretamente a conclusão da Transcarioca, que liga o Aeroporto do Galeão à Barra da Tijuca e é fundamental para o esquema de trânsito para a Copa.

Inicialmente prevista pela Prefeitura do Rio para terminar este mês, a obra teve o prazo prorrogado para o início de junho. Caso não haja acordo nos próximos dias, o novo sistema viário não ficará pronto para o torneio.

Porto Maravilha, Metrô Linha 4, Transmodal, Transolímpica, reforma do Engenhão e Parque Olímpico são as outras obras paradas. 
Neste último, que fica na Barra da Tijuca e vai abrigar a maior parte da competições olímpicas de 2016, houve manifestação pela manhã, por volta das 6h30, com tumulto e fechamento de via. 
Dois tiros foram disparados para o alto durante confronto entre trabalhadores e seguranças do local. Entretanto, não houve feridos. Os autores dos disparos não foram identificados.

Após o incidente, cerca de 250 funcionários da construção se dirigiram para a Avenida Abelardo Bueno e fecharam o trânsito nos dois sentidos da via por cerca de 40 minutos. 
As pistas ficaram interditadas das 8h30 às 9h10 e só foram reabertas com a chegada da PM. Um longo congestionamento dificultou a vida dos motoristas que passavam na região. 
À tarde, patrões e representantes dos empregados chegaram a se reunir, mas não houve acordo. Os operários prometeram voltar a se manifestar hoje pela manhã.

Reajuste
A categoria exige pagamento de 100% sobre as horas extras, aumento da cesta básica de R$ 230 para R$ 300 a partir da data-base de 1º de fevereiro e 10% de aumento nos salários. Já os patrões querem pagar 9% de reajuste e cesta básica de R$ 250.
Segundo o presidente do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias da Construção Pesada Intermunicipal do Rio de Janeiro (Sitraicp), Nilson Duarte, pelo menos 80% dos operários estão parados. Duarte diz que os trabalhadores já reduziram o índice de reajuste de 20% para 10% e a cesta de R$ 400 para R$ 300.
“Tivemos seis rodadas de negociações, mas nas duas últimas não houve avanço. Já cedemos o máximo que podíamos. Abaixamos nossa proposta salarial pela metade e até o plano de saúde para os familiares dos operários retiramos das reivindicações. Está havendo um desrespeito com a classe trabalhadora”, afirma Duarte, acrescentando que a greve é por tempo indeterminado.

Operários do Parque Olímpico voltam a protestar 
Carlos Antônio Figueiredo Souza, presidente do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias da Construção Civil do Município do Rio de Janeiro (Sintraconst – Rio), que representa os 2,5 mil trabalhadores da obra do Parque Olímpico Rio 2016, informou que a paralisação vai continuar e que hoje haverá nova manifestação em frente a obra. 
Ele diz que se reuniu ontem à tarde com representantes da Concessionária Rio Mais, contratada para a execução de parte das obras do Parque Olímpico, mas que nenhum item reivindicado foi aceito. São eles: pagamento de 100% horas extras (eles recebem 70%), vale compras de R$ 300, plano de saúde para familiares dos operários e estabilidade para os trabalhadores ligados ao sindicato. “Como os patrões estão intransigentes e não aceitaram nenhum item reivindicado, a greve continua”, afirma Souza. 
Em nota, a Concessionária Rio Mais, informou que repudia o episódio de violência de manifestantes que invadiram o canteiro de obras na manhã de ontem e que tomou as providências junto às autoridades competentes para apuração dos fatos ocorridos. 
Em nota, a concessionária também afirmou que não houve registro de vítimas. “A Rio Mais reafirma o seu compromisso com o cumprimento da Convenção Coletiva vigente com o sindicato que representa os trabalhadores, e mantém a postura de diálogo permanente e transparente com a categoria desde o início das obras.”

“Ganho real será de 4%”
Rodolph Tourinho, presidente executivo do Sindicato Nacional da Indústria de Construção Pesada (Sinicon), diz que as empresas que formam os consórcios das obras do Transcarioca, Porto Maravilha, Metrô Linha 4, Transmodal, Transolímpica e do Estádio Olímpico João Havelange, o Engenhão, não vão oferecer reajuste acima de 9%.
“Retirando a inflação de 2013, os trabalhadores terão quase 4% de ganho real com o aumento de 9%. Não há como dar 10%. Também daremos no máximo R$ 250 de cesta básica”, diz Tourinho, não comentando a questão das horas extras. Ele afirma que a solução será esperar o julgamento do dissídio coletivo no Tribunal Regional do Trabalho (TRT), que deve ocorrer este mês.
“Tomara que a Justiça julgue rápido para não comprometer o cronograma das obras”, avalia. O presidente do Sinicon confirma que há o risco da Transcarioca não ficar pronta para a Copa do Mundo. “Na verdade, não só a Transcarioca como todas as obras podem ter seus cronogramas comprometidos com a paralisação. Porém, não vamos aceitar este instrumento de pressão dos trabalhadores ”, afirma Tourinho.

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