Poesie di Carlos Drummond de Andrade

CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE


(1982)

DIECI POESIE

POEMA DE SETE FACES


Quando nasci, um anjo torto
desses que vivem na sombra
disse: Vai, Carlos! ser gauche na vida.

As casas espiam os homens
que correm atrás de mulheres.
A tarde talvez fosse azul,
não houvesse tantos desejos.

O bonde passa cheio de pernas:
pernas brancas pretas amarelas.
Para que tanta perna, meu Deus, pergunta meu coração.
Porém meus olhos
não perguntam nada.

O homem atrás do bigode
é sério, simples e forte.
Quase não conversa.
Tem poucos, raros amigos
o homem atrás dos óculos e do bigode.

Meu Deus, por que me abandonaste
se sabias que eu não era Deus
se sabias que eu era fraco.

Mundo mundo vasto mundo,
se eu me chamasse Raimundo
seria uma rima, não seria uma solução.
Mundo mundo vasto mundo,
mais vasto é meu coração.

Eu não devia te dizer
mas essa lua
mas esse conhaque
botam a gente comovido como o diabo.



POESIA A SETTE FACCE

Quando nacqui, un angelo storto
di quelli che vivono nell'ombra
disse: Vai, Carlos, e sii gauche nella vita.

Le case spiano gli uomini
che corrono dietro le donne.
Il pomeriggio sarebbe forse azzurro,
se non ci fossero tanti desideri.

Il tram passa pieno di gambe:
gambe bianche nere gialle.
Perché tante gambe, Dio mio, domanda il mio cuore.
Ma i miei occhi
non chiedono nulla.

L'uomo dietro ai baffi
è serio, semplice e forte.
Quasi non parla.
Ha pochi, rari amici
l'uomo dietro agli occhiali e ai baffi.

Dio mio, perché mi hai abbandonato
se sapevi che io non ero Dio
se sapevi che io ero debole.

Mondo mondo vasto mondo,
se io mi chiamassi Raimondo
sarebbe una rima, non sarebbe una soluzione.
Mondo mondo vasto mondo,
più vasto è il mio cuore.

Non dovrei dirtelo
ma questa luna
questo cognac
mi commuovono da morire.


SENTIMENTAL

Ponho-me a escrever ter nome
com letras de macarrão.
No prato, a sopa esfria, cheia de escamas
e debruçados na mesa todos contemplam
esse romântico trabalho.

Desgraçadamente falta uma letra,
uma letra somente
para acabar teu nome!

- Está sonhando? Olhe que a sopa esfria!

Eu estava sonhando...
E há em todas as consciências um cartaz amarelo:
"Neste país é proibido sonhar."


SENTIMENTALE

Mi metto a scrivere il tuo nome
con lettere di pasta.
Nel piatto, la zuppa si raffredda, piena di squame.
e piegati sul tavolo tutti contemplano
questo romantico lavoro.

Disgraziatamente manca una lettera,
una sola lettera
per finire il tuo nome!

- Stai sognando? Guarda che la zuppa si raffredda!

Io stavo sognando...
E c'é un manifesto giallo in tutte le coscienze:
"È proibito sognare in questo paese."


NO MEIO DO CAMINHO

No meio do caminho tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
tinha uma pedra
no meio do caminho tinha uma pedra.

Nunca me esquecerei desse acontecimento
na vida de minhas retinas tão fatigadas.
Nunca me esquecerei que no meio do caminho
tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
no meio do caminho tinha uma pedra.



IN MEZZO AL CAMMINO

In mezzo al cammino c'era una pietra
c'era una pietra in mezzo al cammino
c'era una pietra
in mezzo al cammino c'era una pietra.

Mai dimenticherò quell'avvenimento
nella vita delle mie retine affaticate.
Mai dimenticherò che in mezzo al cammino
c'era una pietra
c'era una pietra in mezzo al cammino
in mezzo al cammino c'era una pietra.


NÃO SE MATE

Carlos, sossegue, o amor
é isso que você está vendo:
hoje beija, amanha não beija,
depois de amanha é domingo
e segunda-feira ninguém sabe
o que será.

Inútil você resistir
ou mesmo suicidar-se
Não se mate, oh não se mate,
reserve-se todo para
as bodas que ninguém sabe
quando virão,
se virão.

O amor, Carlos, você telúrico,
a noite passou em você
e os recalques se sublimando,
lá dentro um barulho inefável,
rezas,
vitrolas,
santos que se persignam,
anúncios do melhor sabão,
barulho que ninguém sabe
de quê, praquê.

Entretanto você caminha
melancólico e vertical.
Você é a palmeira, você é o grito
que ninguém ouviu no teatro
e as luzes todas se apagam.
Amor no escuro, não, no claro,
é sempre triste, meu filho, Carlos,
mas não diga nada a ninguém,
ninguém sabe nem saberá.


NON AMMAZZARTI

Carlos, calmati, l'amore
è questo che vedi:
oggi baci, domani non baci,
dopodomani è domenica
e lunedì nessuno sa
quel che sarà.

Inutile che resista
o che ti uccida.
Non ammazzarti, oh non ammazzarti,
riservati tutto per
le nozze che nessuno sa
quando verranno,
se verranno.

L'amore, Carlos, e tu tellurico,
la notte è passata su di te,
e le rimozioni che si sublimano,
là dentro un rumore ineffabile,
preghiere,
grammofoni,
santi che si segnano,
annunci del miglior sapone,
rumore che nessuno sa
di che, perché.

Intanto tu cammini
malinconico e verticale.
Tu sei la palma, tu sei il grido
che nessuno ha sentito al teatro
e le luci tutte si spengono.
L'amore nel buio, no, nel chiaro,
è sempre triste, figlio mio, Carlos.
ma non dirlo a nessuno
nessuno lo sa né saprà.


CONFIDÊNCIA DO ITABIRANO

Principalmente nasci em Itabira.
Por isso sou triste, orgulhoso: de ferro.
Noventa por cento de ferro nas calçadas.
Oitenta por cento de ferro nas almas.
E esse alheamento do que na vida é porosidade e comunicação.

A vontade de amar, que me paralisa o trabalho,
vem de Itabira, de suas noites brancas, sem mulheres e sem horizontes.
E o hábito de sofrer, que tanto me diverte,
é doce herança itabirana.

De Itabira trouxe prendas diversas que ora te ofereço:
essa pedra de ferro, futuro aço do Brasil;
este São Benedito do velho santeiro Alfredo Duval;
este couro de anta, estendido no sofá da sala de visitas;
este orgulho, esta cabeça baixa...

Tive ouro, tive gado, tive fazendas.
Hoje sou funcionário público.
Itabira é apenas uma fotografia na parede.
Mas come dói!


CONFIDENZA DI UN ITABIRANO

Per qualche anno ho vissuto a Itabira.
Soprattutto, sono nato a Itabira.
Perciò sono triste, orgoglioso: di ferro.
Novanta per cento di ferro nelle strade.
Ottanta per cento di ferro nelle anime.
E questo estraniamento a ciò che nella vita è porosità e comunicazione.

La volontà di amare, che mi paralizza il lavoro,
viene da Itabira, dalle sue notti bianche, senza donne e senza orizzonti.
E l'abitudine di soffrire, che tanto mi diverte,
è una dolce eredità itabirana.

Da Itabira ho portato questi cimeli che ora ti offro:
questa pietra di ferro, futuro acciaio del Brasile;
questo San Benedetto del vecchio scultore Alfredo Duval;
questa pelle di anta, stesa sul sofà del salotto;
questo orgoglio, questa testa china...

Ho avuto oro, ho avuto bestiame, ho avuto proprietà.
Oggi sono impiegato pubblico.
Itabira è solo una fotografia sul muro.
Ma come duole!


MÃOS DADAS

Não serei o poeta de um mundo caduco.
Também não cantarei o mundo futuro.
Estou preso à vida e olho meus companheiros.
Estão taciturnos mas nutrem grandes esperanças.
Entre eles, considero a enorme realidade.
O presente é tão grande, não nos afastemos.
Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas.

Não serei o cantor de uma mulher, de uma história,
não direi os suspiros ao anoitecer, a paisagem vista da janela,
não distribuirei entorpecentes ou cartas de suicida,
não fugirei para as ilhas nem serei raptado por serafins.
O tempo é a minha matéria, o tempo presente, os homens presentes,
a vida presente.


MANI CONGIUNTE

Non sarò il poeta di un mondo caduco.
Non canterò neppure il mondo futuro.
Sono legato alla vita e guardo i miei compagni.
Sono taciturni ma nutrono grandi speranze.
In mezzo a loro, scruto l'enorme realtà.
Il presente è immenso, non allontaniamoci.
Non allontaniamoci troppo, teniamoci per mano.

Non sarò il cantore di una donna, di una storia,
non dirò i sospiri all'imbrunire, il paesaggio visto dalla finestra,
non distribuirò narcotici o lettere di suicida,
non fuggirò alle isole né sarò rapito dai serafini.
Il tempo è la mia materia, il tempo presente, gli uomini presenti,
la vita presente.


MENINO CHORANDO NA NOITE

Na noite lenta e morna, morta noite sem ruído, um menino chora.
O choro atrás da parede, a luz atrás da vidraça
perdem-se na sombra dos passos abafados, das vozes extenuadas.
E no entanto se ouve até o rumor da gota de remédio caindo na colher.

Um menino chora na noite, atrás da parede, atrás da rua,
longe um menino chora, em outra cidade talvez,
talvez em outro mundo.

E vejo a mão que levanta a colher, enquanto a outra sustenta a cabeça
e vejo o fio oleoso que escorre pelo queixo do menino,
escorre pela rua, escorre pela cidade (um fio apenas).
E não há ninguém mais no mundo a não ser esse menino chorando.



BAMBINO CHE PIANGE NELLA NOTTE

Nella notte lenta e tiepida, morta notte senza rumore, un bambino piange.
Il pianto dietro il muro, la luce dietro la vetrata
si perdono nell'ombra dei passi soffocati, delle voci estenuate.
Eppure si sente perfino il rumore della goccia del medicinale che cade sul cucchiaio.

Un bambino piange nella notte, dietro il muro, dietro la via,
lontano un bambino piange, in un'altra città forse,
forse in un altro mondo.

E vedo la mano che alza il cucchiaio, mentre l'altra sostiene il capo
e vedo il filo oleoso che scorre sul mento del bambino,
scorre sulla via, scorre sulla città (un filo solo).
E non c'è più nessuno al mondo se non questo bambino che piange.


POESIA

Gastei uma hora pensando um verso
que a pena não quer escrever.
No entanto ele está cá dentro
inquieto, vivo.
Ele está cá dentro
e não quer sair.
Mas a poesia deste momento
inunda minha vida inteira.


POESIA

Ho speso un'ora pensando un verso
che la penna non vuole scrivere.
Tuttavia esso è qui dentro
inquieto, vivo.
Esso è qui dentro
e non vuole uscire.
Ma la poesia di questo momento
inonda tutta la mia vita.


CONFISSÃO

Não amei bastante meu semelhante,
não catei o verme nem curei a sarna.
Só proferi algumas palavras,
melodiosas, tarde, ao voltar da festa.

Dei sem dar e beijei sem beijo.
(Cego é talvez quem esconde os olhos
embaixo do catre.) E na meia-luz
tesouros fanam-se, os mais excelentes.

Do que restou, como compor um homem
e tudo que ele implica de suave,
de concordâncias vegetais, murmúrios
de riso, entrega, amor e piedade?

Não amei bastante sequer a mim mesmo,
contudo próximo. Não amei ninguém.
Salvo aquele pássaro - vinha azul e doido -
que se esfacelou na asas do avião.



CONFESSIONE

Non ho amato abbastanza il mio simile,
non ho tolto il verme né curato la rogna.
Ho solo proferito qualche parola,
melodiosa, tardi, al ritorno dalla festa.

Ho dato senza dare e baciato senza baci.
(Cieco è forse chi nasconde gli occhi
sotto la branda). E nella mezza-luce
tesori si sciupano, i più eccellenti.

Di quel che è rimasto, come comporre un uomo
e tutto ciò che egli implica di soave,
di concordanze vegetali, sussurri
di riso, dono, amore e pietà?

Non ho amato abbastanza nemmeno me stesso,
seppure prossimo. Non ho amato nessuno.
Salvo quell'uccello - veniva azzurro e folle -
che si è sfracellato sull'ala dell'aereo.


MASSACRE

Eram mil a atacar
o só objeto
indefensável
e pá e pé e ui
e vupt e rrr
e o riso passarola no ar
grasnando
e mil a espiar
os asfabetos pulpúreos
desatando-se
sem rota
e llmn e nss e yn
eram mil a sentir
que a vida refugia
do ato de viver
e agora circulava
sobre toda ruína


MASSACRO

Erano mille ad attaccare
il solo oggetto
indifendibile
e pala e piede e ui
e vupt e rrr
e il riso volatile nell'aria
a gracchiare
e mille a spiare
gli alfabeti purpurei
che si staccano
senza meta
e llmn e nss e yn
erano mille a sentire
che la vita rifuggiva
dall'atto di vivere
e ora circolava
sopra ogni rovina


Traduzione di Vera Lúcia de Oliveira

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