Dirigir na Bahia ...

Dirigir na Bahia ...


Quem é baiano vai se identificar, quem não é vai aprender.
Autor: Robson (baiano)

Vindo à capital da Bahia a passeio e tendo que se adaptar ao jeitinho baiano de dirigir, não se assuste.
Em Salvador você verá atrocidades; você duvidará que o motorista que violentamente insiste em lhe expulsar da pista goza de boa saúde mental; você não entenderá como nós soteropolitanos, famosos no mundo por não se estressarem, nos transformamos em seres raivosos quando estamos ao volante.
Não fazemos por maldade, guiamos preocupados apenas com o centro do universo, nós mesmos, os baianos, os piores motoristas do Brasil.
As lições vão lhe ajudar no trânsito de Salvador.

1ª Lição: Faixas Inúteis.
A pintura de faixas, quando existe, não serve para absolutamente nada. Nós não sabemos exatamente para que a via foi dividida em faixas. Passamos de uma faixa para outra, rodamos sobre as faixas “seguindo os pontinhos” como se não quiséssemos nos perder... e em qualquer curva preferimos a tangente, mesmo que a faixa ao lado esteja ocupada por algum “leso”. Acostume-se, esqueça as faixas, sinta-se livre.

2ª Lição: Parar Já.
Paramos onde e quando precisamos; às vezes até ligamos o pisca alerta. Todos podem esperar um pouco. Na rua onde mal passa um carro, que diferença podem fazer cinco ou dez minutos parado até que “voinha” desça da casa de “mainha”? Se o carro da frente parar, tenha paciência, espere até que ele decida seguir ou, também é permitido, buzine alucinadamente para extravasar sua raiva, sabendo que não vai adiantar. Desconte no próximo, pare também onde e quando quiser, aqui pode.

3ª Lição: Setas Invertidas.
Não temos idéia do que passava na cabeça de quem colocou aquelas luzinhas amarelas que piscam quando nossos filhos mexem naquela alavanca inútil que fica próxima ao volante. Às vezes acionamos sem querer a luzinha que pisca na esquerda ou na direita. Se desejamos ir para a esquerda, vamos, não importa se a tal luz amarela está piscando, muito menos se pisca do lado certo. Seta é coisa de carioca “isperto”, nós não precisamos de seta para guiar. Nunca sinalize em Salvador, você poderá desviar a atenção do baiano que vai ao seu lado.

Lição: Meter o Terço.
Metendo um terço do seu carro na frente do baiano que teria a preferência você automaticamente obriga-o a ceder em seu favor. Meta o terço em qualquer situação: em cruzamentos perigosos, ao entrar em vias rápidas, quando quiser passar à frente de algum otário, enfim, meter o terço lhe garante vantagem indiscutível. É possível que às vezes ocorra uma pequena batida, coisas da vida. Se bater saia do carro e comece a bater papo com o outro baiano. Vocês acabarão descobrindo que são parentes ou que têm amigos em comum: “Você num é irmão do Tinho? Não, sou primo. Rapaz, cê parece dimais com ele, é escrito e escarrado. Como tá Inha, cunhada do Tinho?”

5ª Lição: Emparelhar.
Fique sempre ao lado de algum carro. Se ele acelerar, acelere também. Se reduzir a velocidade, reduza e permaneça “emparelhado”. Emparelhar deixa o baiano seguro. Vá juntinho, melhor seguir acompanhado. Se atrapalhar quem vem atrás não se avexe, quem quiser passar que passe. É isso mesmo, às vezes a oitenta por hora, ou a vinte, os baianos adoram andar emparelhados... e só Deus sabe o motivo.

6ª Lição: Dois Dedos.
Dois dedos é a distância normalmente mantida por um bom motorista baiano do carro da frente. Colado, bem juntinho. Achamos que assim é possível aproveitar ao máximo o espaço disponível em nossas ruas. Outra vantagem em manter dois dedos do carro da frente é mostrar que estamos com pressa, que o carro da frente deve se apressar. Não importa se o motorista da frente não está atrasado como um bom baiano. O que importa é seguir colado. Não se perca, siga sempre a dois dedos do carro da frente.

7ª Lição: Fila é Para Otário.
Em qualquer conversão, onde normalmente só caberia um carro, nós baianos fazemos a fila dupla, tripla, às vezes dá até para a quarta fila. Nunca espere o leso que está aguardando pacientemente a conversão, fila é para otário. Passe à frente, meta o terço, tome a preferência da conversão à força. Quem quiser que buzine.

8ª Lição: Buzina no Sinal Verde.
Nós, baianos, há muitos anos disputamos o campeonato de acionamento de buzina após a abertura do sinal. Aguarde o sinal verde com as duas mãos prontas para acionar violentamente a buzina do seu carro. O recorde é de Toinho, irmão de Ninha, dois centésimos de segundo após a luz verde. Capriche na buzina, rápido, mesmo que você esteja sem pressa, mesmo que buzinar não faça nenhum sentido.

9ª Lição: Lixo no Carro Não.
É, é isso mesmo que você forasteiro está pensando. Nos nossos carros baianos não pode ter lixo. Vai tudo pela janela: latinha de cerveja, fralda suja, palito de picolé, ponta de cigarro, garrafa pet. Somos muito asseados, lixo no carro não. Quem quiser que varra a rua. Acostume-se e, se do carro da frente for jogado algum objeto grande, desvie sem reclamar.

10ª Lição: O Retorno É Aqui.
Nas ruas de Salvador é possível retornar em qualquer lugar. Gire o volante e, se couber, ótimo. Se não “deu jogo” dê uma rezinha rapidinha e complete a manobra. Quem quiser que espere ou se bata. Quem procura retorno é otário. Não se assuste de depois da curva der de cara com uma D20 atravessada na pista, manobrando para retornar a dez metros do retorno correto.

Boa sorte no trânsito de Salvador.
Antes que eu esqueça: para dirigir em Salvador você não precisa, necessariamente, olhar para frente.
Converse olhando sempre para o carona.
Fale ao celular, leia, procure coisas no porta-luvas, enfim, descontraia, crie você mesmo suas regras de trânsito.

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